06/07/2008

Brincar sem brinquedos

Videogames, computadores, bonecas que tomam mamadeira e falam, jogos eletrônicos etc. colocaram de lado, nos últimos anos, aqueles brinquedos que, fruto da imaginação ou de certas habilidades e destrezas, divertiram tanto a nossa geração como as gerações anteriores. Hoje, em contrapartida, nossos filhos não se conformam se não tiverem o mais recente brinquedo lançado no mercado. Esta situação revela que muitas crianças atualmente não sabem brincar se não tiverem brinquedos e que, mais do que uma forma de entretenimento e de aprendizagem, eles converteram-se em capricho. Nessa reportagem, publicada na comunidade virtual Entre padres (EducaRede Espanha), recuperamos a brincadeira tradicional e seus benefícios, e analisamos a necessidade de se estimular a imaginação de crianças e jovens como um dos pontos fundamentais para seu desenvolvimento pessoal. Saiba mais a seguir na reportagem com tradução de Airton Dantas

"Vejo, vejo... que vês?", por exemplo. Quantas crianças de hoje brincaram disso alguma vez? Certamente muitas delas nunca ouviram falar de brincadeiras cujos protagonistas não são o super-herói do momento ou o videogame mais vendido, mas sim sua imaginação, sua criatividade, sua colaboração e sua destreza. Entretanto, as brincadeiras tradicionais, embora não sejam a última palavra em tecnologia, são uma forma divertida e, ao mesmo tempo, pedagógica e socializadora, fundamental para a educação dos filhos.

Nesse sentido, é importante considerar que ao brincar a criança expressa sentimentos, alivia tensões emocionais, como ansiedade e estresse, além de canalizar a agressividade e ajudar a enfrentar os medos. Por isso, é responsabilidade dos pais fazer com que os filhos aprendam a brincar desde cedo. A brincadeira é importante em qualquer idade, além de ser mais um recurso no contexto educativo e familiar.




O poder do brinquedo

De acordo com a Encuesta Europea Duracell de Juguetes, realizada em 9 países da União Européia, as crianças espanholas elegem majoritariamente (56%) os brinquedos para os seus momentos de lazer. Em seguida aparecem, por ordem de preferência, a televisão, os videogames e as atividades ao ar livre.

Embora crianças e jovens estejam acostumados a ter tudo o que pedem, os especialistas recomendam não atender a todos os seus pedidos. O psicólogo infantil Pablo Grosz, em artigo publicado na revista Padres OK, adverte que “as crianças pedem tudo por acreditarem na máxima: ´como não vou dar se tenho´. Os pais não deveriam dar tudo [às crianças], não apenas por falta de dinheiro, mas porque é preciso ensinar que na vida não se pode ter tudo".

Para Miguel Ángel Conesa, psicólogo e escritor: “se algum parente escapar ao controle familiar e der um brinquedo considerado inadequado pelos pais, então é preciso ser coerente e não deixar esse brinquedo entrar em casa, apesar dos dissabores. É duro, mas se já dissemos aos parentes que não queremos esse jogo para nosso filho, é preciso confirmar isso porque, caso contrário, perderemos toda a credibilidade perante a criança. Portanto, é preciso trocá-lo por outro ou devolvê-lo, acompanhados ou não pelo familiar, explicando os motivos que nos levam a tomar essa decisão".

Estímulo à imaginação

Uma alternativa para não comprar tantos brinquedos e, ao mesmo tempo, passar mais tempo em família é divertir-se sem brinquedos. Conesa afirma que "é importante que os pais brinquem com as crianças, porque muitas vezes, sob o pretexto de dar tudo o que pedem, se está ocultando um sentimento de culpa por não poder estar com eles, ou não poder dedicar-lhes mais tempo. O melhor jogo é aquele que jogamos com eles. Assim, transmitiremos nosso entusiasmo".

As brincadeiras que dispensam brinquedos, para além de seu aspecto lúdico e prazeroso, privilegiam o desenvolvimento de habilidades essenciais, como a psicomotricidade, a linguagem ou a criatividade. Isto é, divertem e favorecem o desenvolvimento infantil em todas as suas facetas: intelectual, motora, social, afetiva, lingüística etc. Não obstante, embora esse tipo de jogo necessite, em sua maioria, de nossa companhia, nós, os pais, dispomos de pouco tempo livre para isso. Por essa razão, freqüentemente optamos pelos brinquedos pré-fabricados, como alternativa à nossa ausência nos momentos de lazer de nossos filhos.

Entretanto, mesmo que as crianças não brinquem para aprender, aprendem brincando. Há um acordo universal entre psicólogos e educadores de que brincar é aprender e que, durante a brincadeira, as crianças desenvolvem novas habilidades e experimentam diferentes papéis. Nesse sentido, um resumo de mais de 40 estudos revelou que a brincadeira está significativamente relacionada a:
  • resolução criativa de problemas;
  • comportamento corporativo;
  • pensamento lógico;
  • coeficientes de inteligência;
  • capacidade de integração e liderança.

Além disso, os especialistas concordam ao afirmar que crianças que não brincam, ou que brincam menos que outras crianças, são mais propensas ao déficit psicológico, intelectual e social. Para aproveitar plenamente os benefícios do brincar, as crianças precisam do apoio dos adultos, que reconheçam o valor da brincadeira e que os estimulem, propondo-lhes um ambiente seguro para brincar.

As brincadeiras que dispensem brinquedos, para além de seu aspecto lúdico e prazeroso, privilegiam o desenvolvimento de habilidades essenciais, como a psicomotricidade, a linguagem ou a criatividade.

Um tipo de brinquedo para cada idade

Embora haja uma classificação dos brinquedos por faixa etária, é importante observar que os papéis desempenhados pelos pais em relação ao jogo compartilhado com os filhos vão mudando à medida que eles crescem. De acordo com informações fornecidas pela Fundación Crecer Jugando, estas são as funções que devemos desempenhar por faixa etária.

Na primeira infância, ajudaremos os filhos a se aproximarem do mundo por meio dos sentidos, explorando todas as possibilidades lúdicas de um brinquedo, fazendo com que tenham novas experiências. Nosso papel, portanto, será o de motivar e favorecer um tipo de jogo determinado. As cantigas de ninar são um exemplo.

A partir dos 3-4 anos aproximadamente, deveremos entrar na brincadeira. Isto é, continuaremos guiando-os e motivando-os, mas também jogando, e não apenas ajudando-os. As brincadeiras de imitação da vida dos adultos, assim como as primeiras conversas, surgem nessa faixa etária.

A partir dos 6-7 anos, o compartilhar converte-se em algo mais. É colaborar, competir, fazendo com que nossos filhos se sintam mais iguais, respeitando-se as normas estabelecidas. Aqui, as crianças poderão se mostrar como são. Os jogos motrizes em grupo nos proporcionarão momentos bem divertidos.

A partir dos 9 anos, aproximadamente, passaremos a ser verdadeiros companheiros de jogo. Já não é tão importante motivá-los, mas sim que eles nos percebam como jogadores envolvidos com a competição e com a cooperação. O jogo e a comunicação passarão a ser, ao longo da vida, perfeitos aliados e nutrirão as relações familiares.

A importância de brincar com nossos filhos

Encontrar uma brecha em nossa agenda atribulada para brincar com os filhos é tão importante para o desenvolvimento das crianças quanto a boa alimentação. Mas não é fácil. Para muitos pais e mães pode parecer tedioso, além de exigir um grande esforço num dia-a-dia marcado pelo estresse e pelo pouco tempo livre.

A brincadeira é especialmente importante até os três anos, porque nessa faixa etária as crianças brincam menos entre si e preferem os pais. Nessa perspectiva, vários estudos demonstram que famílias que têm feito da brincadeira uma base de união na infância têm menos problemas na turbulenta adolescência. Por isso, os especialistas recomendam aos pais dedicar ao menos meia hora diária para brincar com os filhos.

O jogo, fundamental para o desenvolvimento das crianças

Um relatório publicado pela Academia Americana de Pediatria (AAP) destaca que o jogo permite às crianças expressar a criatividade e desenvolver a imaginação, a destreza manual e as atitudes físicas, cognitivas e emocionais, importantes para o desenvolvimento saudável do cérebro. Entre as virtudes do jogo destaca-se também que quando se juntam várias crianças elas aprendem a trabalhar em grupo, a compartilhar, negociar, solucionar conflitos e a defender pontos de vista. E quando têm a possibilidade de brincar com os pais, as crianças percebem que os adultos estão atentos, contribuindo para a construção de relações duradouras.

Nesse sentido, segundo um estudo do Colegio de Pedagogos de Cataluña, a brincadeira duplica a capacidade de concentração e de memória da criança, já que a aprendizagem se torna mais simples quando realizado esse tipo de atividade.

O brinquedo é portanto fundamental para o desenvolvimento das crianças, especialmente na primeira infância, e é recomendável a companhia dos pais. Como já comentado, quando os pequenos brincam aguçam os sentidos – o tato, a visão e a audição são básicos para eles –, agilizam o movimento dos pés e das mãos, e fortalecem a capacidade mental. Mas essa atividade não deve ser apenas mera diversão. O ideal é que atenda a dois objetivos: converter-se em um dos principais fios condutores do amor entre pais e filhos e, ao mesmo tempo, ter vocação educativa. Para que isso seja possível, pai e mãe devem aprender a brincar com as crianças.

Elizabeth Fodor, psicopedagoga especialista em jogos, e autora, com Montserrat Morán e Andrea Moleres, do livro Todo un mundo de sorpresas, assegura que "não importa a quantidade (de jogo) mas a qualidade".

A brincadeira em casa

Em geral, pais de crianças com quatro ou cinco anos não têm dificuldades para inventar brincadeiras. No entanto, as dificuldades surgem quando as crianças são bebês porque muitos pais têm a idéia preconcebida de que eles não se dão conta do que acontece ao seu redor. Mas na primeira infância, as crianças desejam ver coisas novas, escutar ruídos distintos, tocar objetos diferentes e, especialmente, sentir o amor do pai e da mãe por meio de gestos afetuosos e de palavras bonitas. Brincar é uma boa maneira de lhes demonstrar carinho e, ao mesmo tempo, para os pequenos, serve para despertar os sentidos e estimular destrezas básicas. "É preciso deixar a criança realizar uma atividade e motivá-la com muito amor, paciência e uma boa dose de alegria", insiste a psicopedagoga.

Por isso, aconselha-se aos pais que dediquem pelo menos meia hora diária para brincar com os filhos. Ainda que pareça pouco tempo, será suficiente se as atividades forem realizadas em condições adequadas, e se os adultos pensarem com antecedência e souberem estimular as crianças. Não se trata de brincar com rapidez, mas de fazê-lo bem. "Se o pai e a mãe estiverem mal-humorados ou estressados por conta do trabalho, será melhor não brincar com os pequenos porque eles percebem tudo e não vão se concentrar", afirma Fodor. Somente em um ambiente adequado e com envolvimento as brincadeiras funcionam.

Portanto, os pais devem ter em mente que a brincadeira é uma atitude que permite aos adultos e às crianças a diversão com bolhas de sabão ou com pedras lançadas em um riacho. E assim, em sua educação:
Os pais devem fazer com que as crianças tenham seu próprio espaço, cuidando e fazendo com que eles próprios descubram o tipo de brincadeira que mais lhes agrada.


É importante incorporar a brincadeira na rotina familiar, seja ajudando-nos com as compras, arrumando o quarto ou propondo como jogo o fato de colocar os brinquedos em uma caixa para ver quantos cabem.
Os especialistas recomendam aos pais dedicar pelo menos meia hora diária para brincar com os filhos. Embora pareça pouco tempo, será suficiente se as atividades forem realizadas em condições adequadas e pensadas com antecedência.

Algumas brincadeiras "de sempre"

As brincadeiras que divertiram a nossa geração e a de nossos pais são praticadas cada vez menos. Sob o lema "Conservemos para nossos netos as brincadeiras de nossos avós", o portal Juegos sin juguetes faz uma pequena homenagem a esse tipo de brincadeiras ao publicá-las na web, acompanhadas das habilidades trabalhadas em cada um delas.

A seguir, algumas dessas brincadeiras:

O que é, o que é?: De um grupo de pessoas, tiramos um jogador ao mesmo tempo em que colocamos outro no grupo. O jogador retirado volta ao grupo e tem de adivinhar quem foi o escolhido fazendo, no máximo, 10 perguntas, utilizando-se de adjetivos, como por exemplo: É alto? As respostas só poderão ser "sim" ou "não".


Pedra, papel ou tesoura: cada jogador esconde as mãos atrás das costas e faz uma composição com as mãos. Ao dizer "Pedra, papel ou tesoura", os jogadores mostram a mão. Pedra ganha da tesoura; tesoura ganha do papel, e papel ganha de pedra.


O telefone: os jogadores formam um círculo. Na brincadeira, o primeiro faz uma pergunta ao ouvido de quem estiver sentado à sua direita, que lhe responde, e assim sucessivamente até que todos os jogadores tenham participado.


Sombras chinesas: consiste em compor figuras com as mãos diante de uma lâmpada, projetando a sombra na parede de forma que sejamos capazes de imitar os movimentos do animal, ou o que quisermos.

Jogo da amarelinha: traça-se no chão um desenho riscado com giz (quadrados ou retângulos), numerados de 1 a 10. Tira-se na sorte quem vai começar. Cada jogador, então, joga uma pedrinha, inicialmente na casa de número 1, devendo acertá-la em seus limites. Em seguida pula, em um pé só nas casas isoladas e com os dois nas casas duplas, evitando a que contém a pedrinha.



obs:retirado do site educared.



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